É chá ou infusão? E a decocção, onde entra nesta história? Tire suas dúvidas e saiba exatamente o que você está bebendo.
Você conhece a diferença entre chá e infusão? Essa é uma dúvida bastante tradicional e que muitas pessoas não sabem responder, até mesmo aquelas que tomam sua xícara de chá todos os dias – que, no final das contas, pode nem ser chá.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, o chá é a segunda bebida mais consumida do mundo, perdendo apenas para a água.
Já de acordo com a Allied Market Research, o mercado global de chás foi avaliado em US$ 55,144 milhões em 2019 e estima-se que este valor aumente para US$ 68,95 milhões em 2027, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,6% neste período.
Em outras palavras, isso significa que enquanto você reserva um minutinho para tomar aquela deliciosa xícara da bebida, o mercado de chás já movimentou pelo menos US$ 105. Que xícara cara, hein?
Deixando as finanças um pouco de lado, a diferença entre infusão e chá é tão curiosa e menos conhecida do que deveria que até mesmo uma das maiores associações que fazemos à bebida pode estar errada: o tradicional chá das cinco, da Inglaterra, nem sempre é chá!
Brincadeiras à parte, chegou a hora de saber o que é chá e o que é infusão, de modo que você realmente entenda o que está bebendo e possa desfrutar ainda mais de uma bebida milenar e tão deliciosa, consumida em todos os cantos do mundo, de Macaé a Macau, de Sinop (Brasil) a Sinope (Turquia). Confira!
Afinal, qual a diferença entre chá e infusão?
Referência
A diferença é que só se considera chá a infusão de uma planta de origem chinesa chamada de Camellia sinensis, também conhecida como “Chá-da-Índia” ou, simplesmente, “chá”. Qualquer outro preparo não é chá, mas sim infusão.
É por isso que existe uma frase bastante comum neste universo: todo chá é uma infusão, mas nem toda infusão é um chá. Afinal, o preparo se dá por meio do processo de infusão, mas se a planta não for a Camellia sinensis, então não é chá.
O que é infusão?
Lembra quando falamos que todo chá é uma infusão? Pois bem, isso acontece graças ao processo de infusão, em que se adiciona água fervente em alguma substância para extrair seus princípios alimentícios ou medicamentosos.
A infusão é um método tradicional para o preparo de chás (como ocorreu na lenda de Shannong), simples e muito eficiente para extrair bebidas deliciosas, além de ser bem comum no preparo de cafés.
Confira também: Infusão sem confusão: métodos para preparar café com a técnica
Quais são os seis tipos de chás?
Há seis infusões que podem ser feitas a partir dessa planta e todas elas podem, tecnicamente, ser chamadas de chás. São elas:
Chá amarelo
Processo de produção similar ao do chá verde, mas com secagem mais lenta, em que as folhas úmidas repousam até ficarem amarelas.
É um chá maduro, suave e aromático, com sabor doce, limpo e floral e corpo médio.
Chá branco
Infusão com folhas jovens que não passam por efeitos de oxidação graças a técnicas específicas de colheita, secagem e armazenamento.
Tem sabor delicado e levemente adocicado, com menos gosto de “mato” que o chá verde. É bastante usado em blends florais e frutados.
Chá escuro
Com perfil incomum e diferente, é o único chá que passa por uma etapa de fermentação, assim como acontece com o vinho.
Suave e terroso, ele tem um licor turvo e aparência escura, que pode parecer com a do chá preto e até chegar perto da cor de um café.
O sabor varia do suave ao amargo e pode ter notas que remetem a terra e frutas secas.
Chá oolong
Também conhecido como chá azul, em termos de oxidação, está entre o chá verde e o chá preto: não tem o aroma adocicado de rosas do preto, nem as notas vegetais do verde.
Geralmente tem sabor floral, frutado e uma sensação “espessa” na boca. Mesmo se tiver um sabor de “mato”, deve ser bem leve.
Chá preto
É o mais comum no Ocidente. Tem um sabor distinto de malte, quase como uma cerveja sem álcool ou acidez.
É muito oxidado, o que resulta em uma bebida com forte cor vermelha/laranja. Inclusive, na China, também é chamado de chá vermelho.
Diferente do chá verde, não tem sabor de “mato” ou notas frescas, mas sim um aroma profundo e intenso, remetendo levemente a nozes.
Inclusive, fica aqui uma curiosidade: mate não é chá preto. Enquanto o chá preto é derivado da Camellia sinensis, a espécie do mate é a Ilex paraguariensis St. Hil.
Chá verde
O mais consumido na China e no Japão, é chamado de verde justamente porque as folhas oxidam pouco durante o processamento.
O sabor e o aroma varia de acordo com como as folhas foram cultivadas, processadas e quando foram colhidas, podendo ser adocicado, agridoce, vegetal, amanteigado, floral, frutado, oceânico e remeter a nozes.
Qual é a origem do chá?
Referência
É difícil dizer quem inventou o chá ou quando a primeira xícara foi preparada, já que há diferentes origens para a bebida. Algumas das mais conhecidas são as seguintes:
A lenda de Shennong
Porém, uma lenda bastante aceita diz que tudo começou com o imperador chinês Shennong (ou Shen Nong), cujo nome significa, literalmente, “divino agricultor”. Ele é considerado um dos Três Soberanos (ou Três Augustos).
De acordo com a lenda, que se passa por volta de 2737 a.C., o homem estava sentado embaixo de uma árvore, tomando água quente, costume que existe até hoje entre os chineses.
Então, algumas folhas de uma árvore próxima foram carregadas com o vento e caíram em sua água, o que mudou sua cor e sabor. O imperador, então, tomou e ficou surpreso com o sabor e as propriedades regenerativas da bebida.
Há uma variante da lenda que diz que o imperador testou as propriedades médicas de várias ervas em si próprio, sendo que algumas delas eram venenosas, quando descobriu que o chá servia como antídoto.
Shennong, inclusive, é mencionado em “The Classic of Tea”, primeira monografia sobre chá conhecida no mundo, escrita por Lu Yu entre 760 e 762 d.C.
A Dinastia Shang
Lendas à parte, mesmo que a bebida esteja presente em várias culturas e períodos históricos, acredita-se que o chá tenha se originado na Dinastia Shang, a qual durou de 1600 a.C. a 1046 a.C., como uma bebida medicinal.
É isso o que relata o livro “The Story of Tea: A Cultural History and Drinking Guide” (2011), de Mary Lou Heiss e Robert J. Heiss.
De acordo com ele, o ato de tomar chá provavelmente se iniciou na província de Yunnan. De lá, a bebida se espalhou para Sichuan, e há uma citação bem interessante no livro, a qual será livremente traduzida aqui:
“Pela primeira vez, as pessoas começaram a ferver folhas de chá para consumo em um líquido concentrado sem a adição de outras folhas ou ervas, deste modo usando o chá como uma bebida amarga, mas estimulante, ao invés de uma mistura medicinal.”
Leia também: Chá: como a bebida se tornou uma das mais populares do mundo
Quais são os benefícios do chá?
Referência
Descoberto há tantos anos, o chá continua sendo uma bebida muito apreciada e amada em todo o mundo, o que não é à toa. Afinal, além de ser saboroso, ele ainda traz uma série de benefícios à saúde.
O assunto, inclusive, já até motivou a criação de artigos científicos, como em “A Comprehensive Insight on the Health Benefits and Phytoconstituents of Camellia sinensis and Recent Approaches for Its Quality Control”.
Um artigo do site Healthline mostra 10 benefícios com evidências científicas do chá verde. Confira alguns deles:
- Presença de compostos saudáveis bioativos: o chá verde é rico em polifenóis, que reduzem inflamações e ajudam a combater o câncer. Ele também tem epigalocatequina-3-galato (EGCG), antioxidantes naturais que ajudam a prevenir danos às células.
- Pode melhorar a função cerebral: graças à cafeína (presente, mas em menor quantidade que no café), o chá verde pode ajudar no humor, na vigilância, no tempo de reação e na memória, além de combater a ansiedade e aumentar os níveis de dopamina.
- Presença de antioxidantes que podem reduzir o risco de alguns cânceres: pesquisas indicam que o chá verde ajuda a prevenir o câncer de mama, de próstata e do reto.
- Proteção do cérebro contra o envelhecimento: muitos estudos mostram que os compostos de catequina presentes no chá verde possuem efeitos protetivos nos neurônios, possivelmente reduzindo o risco de demência.
- Pode ajudar a reduzir o mau hálito: as catequinas do chá verde também podem suprimir o crescimento de bactérias, potencialmente reduzindo o risco de infecções.
- Pode ajudar a prevenir a diabetes tipo 2: estudos mostram que o chá verde melhora a sensibilidade à insulina e reduz o nível de açúcar no sangue.
- Pode ajudar a prevenir doenças cardiovasculares: estudos indicam que o chá verde melhora os níveis de colesterol total e LDL, o colesterol “ruim”. Além disso, ele aumenta a capacidade antioxidante do sangue.
- Pode ajudar a viver mais: como alguns compostos no chá verde podem ajudar a prevenir cânceres e doenças no coração, ele pode ajudar a aumentar a expectativa de vida.
Portanto, além de ser saboroso, o chá verde ainda faz muito bem à saúde, o que é mais um motivo para adotar seu consumo no dia a dia.
E a decocção, onde entra nessa história?
Também há diferenças entre chá, infusão e decocção. Neste último método, a planta é fervida junto com a água, diferente do que ocorre na infusão, em que a água já está aquecida e é adicionada a alguma planta, flor, folha ou fruta.
Como a decocção é mais lenta, ela geralmente é usada para chás de cascas, raízes e folhas, que demoram mais para liberar seus ativos. Porém, nada lhe impede de preparar uma decocção com os ingredientes que preferir!
Graças à diferença entre chá e infusão, as infusões são ruins?
Não, de forma alguma! Nós apenas comentamos sobre a diferença entre chá e infusão para você saber, na teoria, o que diferencia essas duas bebidas.
Nada te impede de preparar uma ótima infusão de camomila, erva-doce, hortelã, hibisco e erva-mate, além de frutas como maçã, pêssego, abacaxi, limão e maracujá. Porém, esses não são chás, mas sim infusões!
E o chá das cinco, não é chá mesmo?
Referência
Nós comentamos no início do conteúdo que o famoso chá das cinco, tradicional na Inglaterra, nem sempre é chá, o que é verdade.
Algumas das variedades mais comuns para este momento são Earl Grey e English Breakfast. Porém, também há aqueles que consomem o Darjeeling, este feito de Camellia sinensis e, portanto, definitivamente um chá.
Logo, o que determina se aquele será um chá das cinco ou uma infusão das cinco será o uso ou não da Camellia sinensis, o que em nada tira a importância de um momento tão tradicional entre os ingleses.
Diferença entre chá e infusão: um detalhe técnico, mas que não altera a qualidade da bebida
Nosso objetivo aqui não é enfatizar os chás ou demonizar as infusões, mas sim dar nome aos bois. Afinal, é interessante conhecer os significados de cada termo para que eles sejam utilizados corretamente.
No final das contas, seja chá ou infusão, você pode obter bebidas deliciosas através dos métodos de infusão ou decocção. Agora, porém, você sabe quando dar um nome e quando dar o outro.
Depois de aprender qual a diferença entre chá e infusão, deixamos aqui uma dica imperdível para os amantes da bebida: a cafeteira portátil da Pressca. Embora leve este nome, ela pode ser usada para o preparo de chás e outras infusões.
Inclusive, já comentamos sobre ela em nosso artigo sobre cafeteiras versáteis que fazem até chá, com o diferencial de que ela é portátil e, portanto, permite o preparo da sua bebida favorita a qualquer hora e em qualquer lugar.
Depois de conhecer a diferença entre chá e infusão, que tal compartilhar este conteúdo com seus amigos e familiares que também não sabiam dessa curiosidade? Afinal, conhecimento compartilhado é conhecimento dobrado!
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