O hábito de tomar café é um dos mais propagados no mundo: trata-se da bebida mais consumida no planeta . São mais de 150 milhões de sacas produzidas anualmente para dar conta de bilhões de xícaras vertidas diariamente pela população mundial. O consumo deverá crescer mais 25 milhões de sacas na próxima década, de acordo com dados da Organização Internacional do Café (OIC). Haja café!
Desde que o café se propagou no Oriente Médio, para o oeste da Europa e para o leste da Pérsia e da Índia nos séculos 16 e 17, até – enfim – ganhar o Novo Mundo, cada país tratou de desenvolver uma forma diferente de consumir a bebida. Café não é igual em todo lugar do mundo, não. Cada população tem suas tradições e formas de bebê-lo, que foram estabelecidas a partir de valores culturais que pautaram seu consumo e consequente desenvolvimento.
Das formas de preparo às proporções, o que vem servido na sua xícara pode variar em cada país. Por isso, elaboramos uma lista com os principais tipos de café que você vai encontrar em diferentes países que for visitar. Pedir como os locais é uma boa forma de entender as tradições culturais de cada território – e ainda não ficar pagando de turista perdido por aí.
Argentina
Tradição trazida com os imigrantes italianos, o café é uma mania argentina. Os portenhos têm o hábito do café puro com um tantinho de leite, que eles chamam de cortado – o nome vem da expressão corte (também usada para outras bebidas, como vinho), que indica blend, que o café foi “cortado” (ou misturado) com o leite. É o caffè macchiato deles.
Brasil
Tão tradicional como um bom pão com manteiga na chapa, o pingado é uma instituição nacional. Café com leite no café da manhã é um hábito de muitos brasileiros: há quem prefira com mais leite, outros com menos. No copo americano, é um clássico. Já o carioca é o café diluído em um pouco de água, ao invés do leite. O café fica mais fraco, menos encorpado. Talvez por isso tenha ganhado esse nome: um café mais levinho pro clima do Rio de Janeiro.
Estados Unidos
Os americanos gostam de café bem diluído, tomado em copões de mais de 500ml (da mesma forma que tomam refrigerante). Como costumam comprar café “to go”, caminham pelas ruas com o copão cheio de cafeína – o hábito, aliás, disseminou pelo mundo com redes como a Starbucks, que fez parecer cool ir pra baixo e pra cima vertendo seu café.
Etiópia
Conhecido como o berço do café, o país tem tradições seculares com a bebida. As cerimônias do café têm um papel muito importante na vida social dos etíopes: as mulheres costumam passar duas a três horas fazendo o café, desde torras os grãos até servir a bebida à família e aos convidados, e usando a jebena, uma cafeteira típica etíope feita de cerâmica, para isso.
Irlanda
Grandes bebedores, os irlandeses têm uma enorme tolerância ao álcool – e também uma relação de quase devoção a ele. Não seria de se estranhar que eles encontraram uma forma de incluir bebida alcoolica até mesmo nas xícaras de café. Mas não qualquer uma: o tradicional whiskey irlandês, que fique claro. Os ingredientes mudam de acordo com a receita, que pode levar caramelo de açúcar, noz moscada e creme. Com uma dose do whiskey, o Irish Coffee vira um drink, que é consumido a qualquer hora do dia – e é uma ótima pedida para afastar o frio.
Itália
Os italianos popularizaram uma das formas mais comuns de se tomar café. O espresso, café feito a partir de máquinas de alta pressão, permite um café mais denso, encorpado, com a obrigatória presença de uma boa crema formada na superfície – como a espuma no chope. Eles também introduziram um novo léxico na forma de lidarmos com o café, do ristretto ao macchiato, mas o espresso segue sendo o mais popular.
Japão
Os japoneses estão cada vez mais apaixonados por café: algumas das melhores cafeterias do mundo estão localizadas no país, que sabe levar a sério suas paixões. Lá, o sifão (também conhecido como globinho) é um dos métodos preferidos. O equipamento, que lembra os materiais da aula de química (em que o pó, colocado na parte de cima, entra em contato com a água fervida, colocada na parte de baixo, preparando a bebida por método vácuo). Há até concursos de baristas para ver quem prepara a melhor bebida com o gadget. As tecnologias japonesas também chegaram na forma de conservar o café: á fácil encontrar cafés em lata – tanto quente quanto frio – nas máquinas em metrôs ou na rua.
México
O café é muito consumido no México. No país, umas das tradições é o café de olla, que é aromatizado com canela em pau e açúcar não refinado (que eles chamam de piloncillo). A bebida é tradicionalmente servida em xícaras de barro, que são usadas para transmitir um sabor ligeiramente terroso à bebida.
Portugal
Se pedir uma bica em Lisboa, vai levar um pontapé de cafeína – numa xícara servida com uma pequena quantidade da bebida. Bica é o ristretto deles, café curto para dar aquela animada. A lenda diz que o termo surgiu do estranhamento dos portugueses com o café forte e denso que saia das máquinas de espresso. Nas paredes, o aviso: “beba isso com açúcar”, que logo foi abreviado como “bica”. Dizem também que o termo surgiu na A Brasileira, cafeteria que criou o tal slogan, e que ficou famosa por ser uma das preferidas do poeta Fernando Pessoa.
Turquia
Na Turquia e em outros países árabes, o café turco é uma tradição: é também um dos métodos mais antigos de se preparar a bebida. O grão é moído muito fino (pulverizado), depois colocado numa panelinha especial de cobre ou latão (conhecida como Cezve ou Ibrik) onde a água é fervida e misturado, depois fervido novamente por outras duas vezes. Quando servido, é normal que junte uma quantidade de pó no fundo da xícara. Geralmente é servido também com especiais como cardamomo (mais comum), ou até anis estrelado ou canela. O hábito de servir a bebida na Turquia é um Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
-----
Rafael Tonon é jornalista especializado em gastronomia e amante (e produtor) de café. Escreve para diversos veículos no Brasil e no exterior sobre comida, bebidas, tendências e boas xícaras. É colaborador do Eater (www.eater.com), o maior portal de gastronomia dos EUA, e também escreve para veículos especializados em café, como a cultuada revista nórdica Standart.